12 de novembro de 2013

Imprensa: Maysa, o valor da interpretação - Jornal do Brasil, 01/1972


Maysa, o valor da interpretação


Depois de uma experiência em telenovela e o trabalho como atriz de teatro em Woyzeck, de Georg Buchner, Maysa volta à noite como cantora, levando ao público do Number One, em Ipanema, não só o passado e a fossa de Ouça e Dindi, mas também o ritmo e a vibração de Vera Cruz e Adeus América.
A partir de uma lista inicial de 30 números, Maysa selecionou uma dúzia para apresentar no show – uma escolha cuidadosa e preocupada, como tem sido toda a preparação do show desde que surgiu a ideia de faze-lo.
-         Seu forte é a interpretação. – diz Osmar Milito, que a acompanha no show – por isso as músicas já conhecidas não perdem o valor; ganham  uma nova qualidade.

Recado musical

Vestida de preto, cabelos revoltos, Maysa estreia nervosa. Limitada a pouco espaço por uma casa repleta (com muita gente do lado de fora sem poder entrar), ela começa com Tardes, de Milton Nascimento, e, aos poucos, vai ficando mais à vontade com o público. Tom Jobim, Caetano Veloso, Aloysio de Oliveira são os compositores que se seguem. É só música, nada de conversa. “Decorei umas coisas aí, mas prefiro deixar o recado só na música.”

E o recado musical tem a ajuda de Osmar Milito e seu conjunto, Quarteto Forma, e ainda uma percussionista que captava a atenção do público – Naíla Graça Melo, mulher do maestro. É um público exigente e crítico – se não a partir de padrões estéticos bem fundamentados, pelo menos em relação a seu gosto musical particular. É um teste rigoroso para uma artista que se considera tímida, mas que tem procurado enfrentar essa limitação.

Quando voltou da Europa, depois de quase cinco anos fora, Maysa já aparecia como uma pessoa em transformação. Sua temporada no Canecão, onde deveria enfrentar o desafio de uma plateia tão heterogênea, já era um principio. E ela teve de descobrir dentro dela mesma a coragem de enfrentar sua timidez. Coragem que utiliza para enfrentar o público do Number One. 


(Reportagem publicada originalmente no JORNAL DO BRASIL, em janeiro de 1972)


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