13 de março de 2014

Imprensa: Os "trinta litros" a menos de Maysa - Diário da Noite, 15/09/1969


Os "trinta litros" a menos de Maysa


Texto: Suad Hadha – Foto: João Peixe

Maysa, um dos únicos “fenômenos artísticos”, concedeu ontem entrevista coletiva à imprensa no Urso Branco, local onde irá estrear seu novo show. A grande intérprete e cantora pode ser considerada um dos acontecimentos mais importantes do nosso meio musical.
Enquanto muitos de nomeada lutam pela permanência na parada de sucesso, a cantora brasileira deixa o Brasil, não vai à televisão, grava poucas melodias e quando retorna, depois de longo tempo, é sempre bem recebida, lotando todos os locais onde se apresenta.
Maysa é a mensagem mais autêntica de singeleza. Responde a qualquer pergunta e dá o máximo de atenção a quem a interroga. Com seus trinta quilos a menos, a compositora e cantora de “Ouça”, “Meu mundo caiu” e outros tantos sucessos que iniciaram a verdadeira fase intimista da música brasileira, está como aquilo que o brasileiro da gema rotula de “enxuta”. Linda, autêntica como sempre se apresentou, diz que “nunca deixei de beber”. Só não tomo aqueles pileques famosos, mas deixar da bebida, jamais. Emagreci, uns trinta litros”.
Maysa confessa que cantaria, como Ângela Maria, em qualquer boate e não vê nisso nenhum problema. E com suas novas gravações, onde se incluem músicas de Roberto Carlos, Johnny Alf e outros compositores, totalizando vinte interpretações, inclusive da sua própria autoria, Maysa, após longa ausência de nossos palcos, voltará no Urso Branco.

GRAVAÇÕES

Embora seja profundamente saudosista, a cantora que encantou muitos países da Europa, gosta muito de Caetano Veloso e o considera um “cantor que quem interpretar suas músicas, estará dando o recado. Caetano é ‘sideral’, mas eu não gostaria de gravar nada dele, porque acredito em uma gravação que exija criação pessoal. Enquanto outros podem interpretar Caetano, eu gostaria que ele compusesse para mim, só para mim. Aí então eu gravaria, caso contrário, não”.
Teatro também é tema para Maysa. se por um lado não lhe sobra espaço para faze-lo, em seus planos consta uma peça com roteiro baseado em crônicas do imortal compositor Antônio Maria e músicas de Dolores Duran. Essa peça, Maysa pretende leva-la no próximo ano, com estreia marcada em teatros do Rio de Janeiro.
Outra pergunta que se fez nessa entrevista, foi sobre seu ponto de vista a respeito de Cauby. Maysa disse gostar muito dele como pessoa. E como cantor, embasbacou-se, pois nunca houvera pensado antes. Disse aos repórteres que prometia “parar e pensar”.
Gosta do seu futebolzinho, embora “pó-de-arroz” em torce em S. Paulo pelo Palmeiras; no Rio é Botafogo.
Adiantou que está confiante na música que defenderá no Festival Internacional da Canção, e, a instituição do “Troféu Maysa” à melhor intérprete desse mesmo festival, a fez muito feliz.
Nem por essa docilidade toda, Maysa deixa de responder que “em verdade Elis Regina é o pior caráter que conhece no ambiente que vive. Elis é falsa, intrigueira, sem desmerecer seu grande valor como cantora. Intérprete ela não é. Maria Bethânia sim é uma grande intérprete da nossa música. Enquanto isso, Nara Leão é puramente autêntica”.

BRUXARIAS

Maysa não crê nisso, e sorriu quando lhe perguntaram se “Polanski não era um bruxo”. E vai além em todas suas considerações sobre o que há de acontecer. Para ela “felicidade é privilégio dos burros”.
Isso, segundo a cantora, é o mesmo que dizer que “não se vive com os pés fincados no passado e ser feliz é coisa de momento. Quem acreditar que se planta a felicidade em tempos, é burro mesmo. A gente terá sempre, no momento em que vive, sorrisos e tristezas. Terá a mesma coisa nos tempos idos. E será sempre assim”.
Maysa lê pouco, pela falta de tempo, mas confessou estar profundamente impressionada com o último livro que leu: “O Compromisso” de Elia Kazan.
Isso não impede de dizer que atualmente não componha mais. Faz, às vezes, poesia, mas “somente para consumo pessoal”.
Maysa é realmente a *palavra ilegível* mais autêntica mesmo. É capaz de dizer com convicção que “gosto muito mais de cachorro vira-lata do que desses atrevidos à bacanas. O vira-latas não tem trejeitos”.
De todos os convidados não faltou Werner, o cabeleireiro de Maysa, *palavra ilegível*. Foram muitos abraços *palavra ilegível* se viram e não faltou o clássico beijo de saudades quando se encontraram mais perto.
Realmente muita coisa *palavra ilegível* se diria de Maysa. No entanto, o mais importante é esse extravasamento e a alegria que essa excepcional compositora e cantora demonstrou.  Rejuvenescida, com seu filho a tira colo, *palavra ilegível* dos poucos sucessos permanentes de nosso meio romântico, falou à imprensa e dialogou com todos numa noite de muita música.


(Reportagem publicada originalmente no jornal DIÁRIO DA NOITE, na 5ª feira, 15 de setembro de 1969)

Um comentário:

  1. Meio que na base da adivinhação, acredito que as palavras que faltaram no último parágrafo sejam:
    Maysa é realmente a SINGELEZA mais autêntica mesmo. É capaz de dizer com convicção que “gosto muito mais de cachorro vira-lata do que desses atrevidos à bacanas. O vira-latas não tem trejeitos”.
    De todos os convidados não faltou Werner, o cabeleireiro de Maysa, SEMPRE. Foram muitos abraços QUANDO se viram e não faltou o clássico beijo de saudades quando se encontraram mais perto.
    Realmente muita coisa AINDA se diria de Maysa. No entanto, o mais importante é esse extravasamento e a alegria que essa excepcional compositora e cantora demonstrou. Rejuvenescida, com seu filho a tira colo, UM dos poucos sucessos permanentes de nosso meio romântico, falou à imprensa e dialogou com todos numa noite de muita música.

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